Após um disputado duelo, Ayrton Senna segurou a Ferrari de Michele Alboreto e garantiu o segundo lugar em Imola, atrás de Nigel Mansell.
Gérard Ducarouge acredita que a suspensão ativa é o caminho a seguir. Veja o regulamento: temos limite na potência do motor, limite no peso, limite nos pneus, já que todos usamos Goodyear. Então talvez a suspensão ativa seja a única área em que podemos obter alguma vantagem. Antes da temporada, as apostas da Lotus, como se vê pela declaração de Ayrton Senna, estavam concentradas em seu sistema pioneiro de estabilidade do carro. O sistema tem o aumento de peso como contrapartida, mas quando funciona, é incrível.
Fazê-lo funcionar, porém, era justamente o problema. A Lotus chegou a Jacarepaguá para a primeira etapa do ano, marcada para 12 de abril, longe de ter um acerto ideal na suspensão. Mesmo sofrendo com o conjunto, Senna conseguiu uma ótima terceira posição no grid. Na prova, o brasileiro se manteve bravamente no segundo lugar até pouco mais de metade da corrida, quando começou a perceber problemas no motor. Seis voltas depois, já na quinta colocação, abandonou a prova.
Não sei realmente o que aconteceu. O motor vinha funcionando perfeitamente até aquele momento. Na verdade, era a única coisa que funcionava com perfeição no carro, desabafou Senna. De repente, senti que ele começou a trincar e decidi abandonar a corrida, pois se continuasse poderia destruí-lo completamente.
TRABALHO PARA O FUTURO
Para a etapa seguinte, o Grande Prêmio de San Marino, Senna sabia que sua máquina, ainda pendente de melhorias, continuaria como coadjuvante das Williams e das McLaren. Mas, em um treino extraordinário, alcançou uma surpreendente pole position. Olha, sinceramente, nem eu esperava essa pole position. Desde o primeiro treino sinto que o carro vem melhorando muito, mas ainda assim não acreditava que pudesse superar a Williams. Hoje, porém, foi tudo bem e agora é esperar a prova, que é outra história, declarou.
A pole não disfarçou o fato de que a suspensão ativa, até aquele momento, estava mais para um problema do que para uma solução. O pessoal tem se matado de trabalhar para resolver os problemas desta suspensão por computador. É um processo demorado e extremamente trabalhoso, porque tudo é novo, em nada podemos ter certeza do que vai acontecer. Um resultado destes dá novo ânimo a todo mundo e nos motiva para seguir este trabalho, que mais cedo ou mais tarde nos colocará na frente dos que usam a suspensão convencional. É o desenvolvimento normal de todo um projeto. Temos de ter paciência.
O ITALIANO NÃO
Paciência também seria a palavra-chave na estratégia de Senna para o Grande Prêmio de San Marino, disputado no dia 3 de maio. Mas ao menos ali ela teve efeito imediato, levando o brasileiro ao segundo lugar, á frente de Michele Alboreto, da Ferrari. Em conversa com os jornalistas após a prova, o brasileiro detalhou o duelo com o italiano, que animou o tifosi em Imola.
Depois de deixar o Mansell e o Prost passarem, ainda segurei por um bom tempo as duas Ferrari. O Alboreto só me passou a primeira vez porque meu carro bateu forte no chão, na saída de uma curva, e acabei errando a marcha.
No início da corrida a Lotus estava muito desequilibrada, batendo sempre no chão, e acabou acontecendo isso. Mas ainda assim deu para ficar perto dele e passa á frente outra vez na hora da parada no box. Fizemos uma troca boa, eles não, e voltei á pista na frente. Depois Alboreto chegou a me passar de novo, mas logo seu carro começou a andar lento na parte alta do circuito e pude retomar a posição, abrindo o turbo um pouco mais e passando direto.
BOM PARA O MORAL
O segundo lugar colocou Senna na quarta posição do mundial, com os mesmos seis pontos de Nelson Piquet, que não correu em Imola por causa da batida da sexta-feira. Á frente deles estavam Nigel Mansell, o líder com 10 pontos, Alain Prost, com 9, e Stefan Johansson, com 7.
A corrida foi excelente para levantar o moral da turma depois do fracasso no Rio, quando o carro estava realmente muito ruim. Continuo a dizer, porém, que é cedo para pensar em vitória. Se a Williams do Piquet estivesse correndo e o Prost não tivesse quebrado, certamente não estaríamos comemorando agora o segundo lugar, analisou, com sinceridade. Temos muito o que fazer, muito mesmo. Por isso é que não me empolgo com o segundo lugar, embora reconheça que ele foi ótimo para animar essa turma boa que ficou trabalhando no meu carro até as três horas da manhã. Foi mais do que eu esperava. Muito mais.