A ESTREIA EM INTERLAGOS NA FÓRMULA 1; A VANTAGEM DE CORRER EM CASA

Ayrton Senna á estreia em Interlagos na Fórmula 1

Senna participou ativamente da remodelação do traçado do autódromo paulistano, mas a tão sonhada vitória no Brasil ficou adiada mais um ano.

Definida em novembro de 1989, a volta do Grande Prêmio do Brasil a Interlagos foi o término de uma longa negociação que envolveu Bernie Ecclestone, presidente da Associação dos Construtores da Fórmula 1

( Foca, na sigla em inglês ), detentora dos direitos das provas da categoria, e as prefeituras do Rio de Janeiro e de São Paulo, a primeira se esforçando a todo custo para manter a corrida em Jacarepaguá, a segunda acenando com um autódromo completamente remodelado. No fim das contas, a proposta bandeirante seduziu os chefões da Fórmula 1, para a alegria do paulistano Ayrton Senna, que se envolveu pessoalmente no desenho do novo traçado de Interlagos.

O objetivo de todas essas modificações foi deixar a pista mais segura, afirmou Senna em 12 de dezembro de 1989, durante uma vistoria das obras de Interlagos. Eu gostava muito de correr no Rio, na única pista onde corri  de carro no Brasil até hoje, mas Jacarepaguá foi construído há dez anos e não contou com as tecnologias hoje existentes e necessários para o atual estágio de desenvolvimento da Fórmula 1.

Com as mudanças, a extensão do circuito seria cortada quase pela metade, passando de quase 8 km para pouco mais de 4 km; também foram construídos espaçosos boxes, bem como uma nova torre de controle. Outra grande mudança aconteceria na sequência da curva 1, com a criação de uma variante em forma de S que levaria os carros para a reta oposta após a largada. Sugerido por Ayrton, esse S em descida deveria tornar o circuito um dos mais emocionantes do calendário. Voltarei aqui na próxima semana, para acompanhar o desenho dessa variante, que tem de ser em forma de um S bem tênue, para não ficar parecendo uma chicane, o que provavelmente receberia críticas de todos, afirmou, já ansioso por ver o traçado finalizado. Vai ser muito gostoso correr aqui.

O S DO CHICO

No início de fevereiro, com as obras na reta final, Senna fez nova visita a Interlagos, e afirmou que essa variante, que já era conhecida como S do Senna, deveria receber o nome de um dos pioneiros do automobilismo nacional, que havia falecido no ano anterior. Falam que é o S do Senna, mas acho que seria muito mais justo batizá-lo de S ou Curva do Chico Landi, que abriu fronteiras do automobilismo mundial para o Brasil e sempre teve um amor especial por Interlagos, fazendo o possível para trazer a Fórmula 1 de volta para cá, quando foi o administrador do autódromo, disse Senna.

Nesse caso, porém, a sugestão de Ayrton não foi ouvida: o uso popular já havia consagrado o batismo do S do Senna, um presente dos fãs para o brasileiro mais popular da Fórmula 1, que completava 30 anos de idade em 21 de março (três dias antes da corrida em Interlagos, portanto). Na verdade, a vitória é o presente que eu quero dar a população de São Paulo, afirmou Ayrton.

ESTRAGA PRAZERES

Foi por pouco, infelizmente. A colisão com Satoru Nakajima acabou com o sonho de Senna e dos milhares de brasileiros que lotaram Interlagos. Eu lamentei muito o acidente, pois o carro estava muito bem desde o início, e eu tinha uma vantagem segura sobre os demais, revelou após a corrida. O Nakajima abriu a porta, e quando pus o carro por dentro, ele voltou em cima de mim. Eu ainda pisei rápido no freio, evitei uma batida mais forte, mas a roda traseira dele passou sobre o bico do meu carro, lamentou o brasileiro.

A partir daí, Ayrton apenas buscou diminuir o prejuízo. Ao retornar á pista, eu ainda consegui uma volta rápida, mas depois o carro começou a ficar nervoso, saindo muito de traseira, explicou. Naquela hora, preferi abrir um pouco mais de vantagem sobre a Williams e a Ferrari, que vinham bem perto atrás de mim. correndo para marcar pontos no campeonato e não para vencer.

Ao vilão do dia, só restou pedir perdão para a torcida brasileira. Quando eu saí do caminho, para Ayrton passar, o carro pegou sujeira na pista e ficou desgovernado, voltando sozinho para dentro da curva, exatamente no momento em que ele estava passando, afirmou Nakajima. Digam-lhe que eu peço desculpas, que não foi intencional.

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