AYRTON SENNA GP DO BRASIL 1990; UM NAKAJIMA NO MEIO DO CAMINHO

Ayrton Senna GP do Brasil 1990

No retorno da Fórmula 1 a Interlagos, tudo indicava que Senna alcançaria a vitória, mas o choque com o japonês da Tyrrell abriu as portas para um novo triunfo de Prost.

Na temporada de 1990, o Grande Prêmio do Brasil voltava as origens. O Autódromo de Interlagos, palco das primeiras corridas de Fórmula 1 disputadas em solo brasileiro, passava a receber de novo as máquinas mais rápidas do automobilismo. O circuito de São Paulo era uma espécie de berço da categoria no Brasil: as históricas vitórias de Emerson Fittipaldi em 1973 e 1974 ajudaram a impulsionar a popularidade da Fórmula 1 no País e, por consequência, a formação de uma nova geração de talentosos pilotos. O último dessa linhagem de campeões era justamente o favorito para vencer a prova a ser disputada em 24 de março de 1990: Ayrton Senna.

Motivos para esse favoritismo não faltavam. O paulistano da McLaren, que venceu a prova de estreia da temporada, o GP dos Estados Unidos, se sentia em casa em Interlagos, onde deu seus primeiros passos no mundo do esporte a motor, pilotando karts. Além disso, Senna participou ativamente da remodelação do autódromo, que, para a prova de 1990, teve seu trajeto encurtado e modificado para atender as novas necessidades tecnológicas e de segurança da Fórmula 1 – inclusive com a sugestão do piloto para a construção de um S em descida após a primeira curva.

PRIMEIRA VEZ?

Em Jacarepaguá, onde o Grande Prêmio do Brasil foi disputado de 1981 a 1989, Ayrton jamais conseguiu um triunfo. Caso vencesse em Interlagos, não apenas quebraria a série de revezes no Brasil, como ainda se tornaria o primeiro brasileiro a triunfar em São Paulo desde José Carlos Pace, ganhador em 1975. Na última edição da corrida na capital paulista, em 1980, a vitória foi de um francês, René Arnoux, da Renault.

E, desde o momento em que os carros começaram a acelerar em Interlagos, parecia mesmo que ninguém conseguiria parar o piloto da casa. Na sexta-feira, Senna cravou 1m17s769 e conquistou a pole provisória, á frente de seu companheiro Gerhard Berger, que marcou 1m17s888; toda a concorrência ficou na casa de 1m18 ou mais. No sábado, mesmo com um tempo que já seria suficiente para sair na ponta, Senna baixou ainda mais sua marca, registrando 1m17s277. Berger, com o tempo de sexta-feira, ficou com a segunda colocação, seguido pelas Williams de Thierry Boutsen (1m18s150) e Ricardo Patrese (1m18s288). Donas dos melhores resultados nos testes de pré-temporada, as Ferrari voltaram a decepcionar: Nigel Mansell e Alain Prost ficaram apenas na terceira fila, respectivamente com os tempos de 1m18s509 e 1m18s631.

IMPERÍCIA 

Não houve surpresas na largada: o brasileiro saiu bem e manteve a ponta. Berger, porém, teve problemas nos pneus e não conseguiu acompanhar o companheiro de equipe.

Na oitava volta, foi ultrapassado por Boutsen, e na 16a por Prost, que pulou da sexta para a quarta posição já na primeira volta. Na 32a volta, Senna fez a parada para a troca de pneus; a McLaren trabalhou com perfeição, e o brasileiro voltou atrás apenas de Berger, que havia se recuperado na corrida e herdado o primeiro lugar. No entanto, duas voltas depois, foi a vez de o austríaco precisar ir ao box da McLaren – e assim, Ayrton reassumiu a ponta, no que parecia ser de forma definitiva.

Mas no meio do caminho entre Senna e a vitória no Grande Prêmio do Brasil estava o retardatário Satoru Nakajima. Na 40a volta, o ex-companheiro de equipe de Ayrton na Lotus, agora correndo pela Tyrrell, recebeu por três curvas consecutivas a bandeira azul para ceder a passagem ao líder, mas só o fez na freada para o Bico de Pato, a curva mais fechada do circuito. Senna partiu para ultrapassar por dentro, mas o japonês – por pura imperícia – fechou-lhe a porta. O choque foi inevitável, causando a perda do bico da McLaren do brasileiro, que precisou parar no box e voltou á prova quase 30 segundos atrás de Prost e Berger, primeiro e segundo colocados. De novo, o grito de vitória no Grande Prêmio do Brasil ficava entalado na garganta.

Tão difícil quanto perder um Grande Prêmio do Brasil que já parecia ganho foi ver a vitória cair no colo do arquirrival Alain Prost, que, a bem da verdade, fez uma corrida tecnicamente perfeita. Mesmo saindo da sexta posição, a bordo de uma Ferrari ainda instável, o francês chegou 13 segundos á frente de Berger e conseguiu sua sexta vitória em solo brasileiro, mostrando que a fama de Rei do Rio, para a tristeza dos brasileiros, também era válida em São Paulo.

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