Do primeira treino á bandeira quadriculada, Senna não deu chance á concorrência e venceu em Monte Carlo pela terceira vez.
Na quarta etapa de 1990, o circo da Fórmula 1 armava de novo sua tenda no mais luxuoso dos palcos: o paradisíaco cenário de Monte Carlo, onde se disputaria, em 27 de maio, a 48a edição do Grande Prêmio de Mônaco. Apesar de não ter marcado pontos na corrida anterior, em Imola – quando uma pedra entrou no aro de uma das rodas dianteiras da McLaren e causou seu abandono logo na terceira volta, Ayrton Senna ainda chegava como líder do campeonato, agora com uma apertada vantagem sobre Alain Prost: 13 pontos contra 12. O rival, como sempre, prometia ser a grande pedra no caminho do brasileiro rumo á sua terceira vitória no Principado; afinal, Prost já havia triunfado quatro vezes em Mônaco.
E o francês da Ferrari contava com outra vantagem para aquela prova: o câmbio automático das rossas projetadas por John Barnard, que evitaria o desgaste da intensa troca de marchas no atravancado circuito de rua. Era só fazer o cálculo: com uma média de 43 mudanças de marcha por volta, multiplicado pelas 78 voltas previstas para a corrida, um piloto se via obrigado a acionar o câmbio cerca de 3.350 vezes em Mônaco, algo que Prost e Nigel Mansell agora estariam dispensados. McLaren e Benetton preparavam-se para introduzir o câmbio automático na temporada seguinte; enquanto isso, restava a seus pilotos tirar a diferença no braço.
SENNA SUPERA SENNA
Mas a máquina que predominou nos treinos se chamava Ayrton Senna. Insaciável, o brasileiro não tomou conhecimento da concorrência e quebrou recorde atrás de recorde em Mônaco. Na quinta-feira, primeiro dia de treinos oficiais, já tinha o melhor tempo praticamente assegurado (1m27s877, novo recorde da pista, superior á marca de Berger, segundo colocado com 1m23s001) quando, a 20 minutos do final da sessão, decidiu colocar pneus novos e voltar ao asfalto. E assim, baixou ainda mais sua marca, para 1m21s797. Este tempo é o da pole. Ninguém vai conseguir superá-lo, admitiu Franco Liistro, relações públicas da Ferrari.
O italiano só se esqueceu de que, no sábado, Ayrton Senna entraria de novo na pista. E o brasileiro superou mais uma vez – ou melhor, duas – sua própria marca. Com o primeiro jogo de pneus, marcou 1m21s543, o que já lhe garantia o primeiro posto. Mas decidiu entrar na pista de novo e cravou incríveis 1m21s341, marcando a 45a pole de sua carreira. Ao lado dele, na primeira fila, Alain Prost, que também voou baixo e terminou em 1m21s776. Imediatamente atrás, chegou outro francês, o surpreendente Jean Alesi, da Tyrrell, com 1m21s801 – o jovem foi o único a acompanhar Senna e Prost na casa de 1m21s.
Sair na frente era meio caminho andado, mas Senna estava consciente de que, para vencer a prova, ainda faltava percorrer a segunda metade. Preciso sair na frente na Saint Devote. Quem conseguir isso terá uma significativa vantagem, pois ultrapassar aqui é uma aventura. Com carros parecidos, só se consegue ganhar posições arriscando tudo. E correr riscos aqui…..
PÉ LEVE
A largada de Senna foi perfeita. Mas acabou não valendo. Prost e Berger colidiram ainda na primeira volta, quando o francês, que já havia sido ultrapassado por Alesi, tentou defender a terceira colocação e fechou o austríaco da McLaren. A direção de prova então determinou nova saída. Senna foi impecável de novo, disparando na liderança e fugindo da encrenca do pelotão de trás. Dessa vez, Prost resistiu ás investidas de Alesi e manteve a segunda colocação, mas um problema na bateria forçou seu abandono na 30a volta, abrindo passagem para o compatriota.
A partir daí, não houve alteração na formação que alcançaria o pódio: Senna, Alesi e Berger. Apesar da liderança de ponta a ponta, Ayrton, que chegou a estar 22 segundos á frente do rápido francês, cruzou a linha de chegada a apenas 1s087 de Alesi. Poupei o carro o máximo possível, desde antes da metade da corrida, porque o motor começou a perder potência. Procurei guiar mais depressa nas curvas, levantei o pé. E assim, pela terceira vez, levantou também o troféu do Grande Prêmio de Mônaco.