Projetado por Gérard Ducarouge, novo carro de Ayrton Senna para a temporada de 1986 ganhou um câmbio de seis marchas.
Em 12 de janeiro de 1986, Ayrton Senna desembarcou no Rio de Janeiro para o início dos primeiros treinos da temporada de Fórmula 1. Seu carro havia chegado quatro dias antes, mas sofreu um acidente no aeroporto, quando escapou do guincho e despencou com o nariz no chão. Perguntado se o episódio não poderia gerar problemas mecânicos, o brasileiro, que iniciava seu segundo ano como piloto da Lotus, mostrou bom humor. Se o carro aguentou todas as pancadas que eu dei com ele ano passado, não vai ser uma quedinha que vai prejudicá-lo.
Ele já provou que é forte, sorriu. De qualquer forma, aquele não era ainda o modelo que o projetista Gérard Ducarouge preparava para entregar a Ayrton em 1986. A nova Lotus 98T só desembarcaria na Cidade Maravilhosa, sem acidentes, cerca de três semanas depois, no início de fevereiro, quando foi apresentada á imprensa no asfalto quente de Jacarepaguá. Novamente com a pintura exterior de parar o trânsito, nas cores preta e dourada da John Player Special, o carro era uma evolução natural do 97T, com uma versão aprimorada do motor Renault V6, e agradou a Senna nos primeiros testes.
Eram duas as mais importantes diferenças em relação á versão anterior. A primeira, feita para atender a mudança do regulamento da categoria, dizia respeito á diminuição do tanque de combustível, que agora deveria ter uma capacidade máxima de 195 litros, contra os 220 litros permitidos em 1985. A segunda era a nova caixa de câmbio, com seis marchas em vez das cinco do anterior, uma mudança que parecia promissora, conforme a declaração de Ayrton publicada na Folha de São Paulo de 19 de fevereiro de 1986. Melhorou muito o rendimento do carro em relação ao ano passado.
NOVIDADES A GRANEL
A primeira corrida do ano, o Grande Prêmio do Brasil, estava marcada para 23 de março. Ali, os fãs de automobilismo poderiam assistir pela primeira vez algumas das estrelas do circo em suas novas equipes. Keke Rosberg havia trocado a Williams pela McLaren; Elio de Angelis havia deixado a Lotus e assinado com a Brabham; e, naquela que talvez fosse a grande temporada, Nelson Piquet, depois de conquistar dois títulos mundiais pela Brabham, agora correria pela Williams, ao lado de Nigel Mansell.
Analistas eram quase unânimes em apontar o favoritismo para a Williams, que já vinha em ascensão desde o final de 1985 – quando registrou, com Mansell e Keke Rosberg, vitórias nas três ultimas etapas do calendário. Seu último modelo, o FW11 com um exclusivo motor Honda, provou nos primeiros testes do ano ser aimda mais rápido que o anterior.
Vencedora do mundial de pilotos e de construtores nos dois anos anteriores, a McLaren chegava com o modelo MP4/2C, último exemplar da linhagem vitoriosa da escuderia de Ron Dennis, o que por si só já a colocava entre as candidatas ao título. A presença do então campeão do mundo Alain Prost, e do Keke Rosberg reforçava ainda mais essa condição, ainda que Prost se esforçasse para decolar-se do protagonismo. É claro que me esforçarei ao máximo para conquistar o segundo campeonato mundial consecutivo, mas, sem dúvida, a McLaren parece estar chegando ao final de um período de êxito, enquanto a Williams está em alta, relativizou o francês no início de fevereiro.
Dentre as possíveis surpresas para o ano, a maior era a Brabham BT55, projeto de Gordon Murray tido como revolucionário: com carroceria em forma de cunha e um centro de gravidade mais baixo, fazia o piloto guiar quase deitado.
O carro contava com um motor BMW exclusivo, mas apresentou tantos problemas nos testes do começo do ano que seu real desempenho ainda era uma incógnita.
TEMPO AO TEMPO
E a Lotus, como ficava na briga pelo campeonato de 1986? É um otimista Ayrton Senna quem responde. Posso garantir que sou um dos candidatos, mas a luta pelo título será igual para todos, porque há muitos segredos entre as equipes e ninguém sabe como está este ou aquele carro para a temporada, registrou O Globo de 2 de fevereiro.
Com relação aos pilotos, a coisa não muda, o que muda é a máquina. Só depois de quatro ou cinco corridas é que se poderá fazer uma análise mais detalhada. Então era esperar pelo primeiro sinal verde para ver.