O anúncio do acerto de Ayrton Senna com a Lotus enfureceu a Toleman, mas as partes se entenderam e o brasileiro se despediu com pódio em Portugal.
Todos,, absolutamente todos, sabiam que era uma questão de tempo até que uma das grandes equipes da
Fórmula 1 partisse para o ataque e tirasse Ayrton Senna da Toleman. A dúvida era apenas quando isso aconteceria – e, mais importante, qual seria a nova casa do piloto brasileiro. No dia 26 de agosto de 1984, durante o Grande Prêmio da Holanda, essas questões foram oficialmente respondidas: a Lotus anunciou a contratação de Senna para o ano seguinte, confirmando os boatos que há muito rondavam o circo. Mas a inevitável separação acabou sendo mais problemática do que se supunha, gerando muita dor-de-cabeça ao piloto para o restante daquela temporada.
Alegando não ter avisado do acerto pelo piloto ou pela Lotus, a Toleman contra-atacou, prometendo buscar seus direitos na justiça. Em nota oficial após a prova, a escuderia carregou nas tintas dramáticas, afirmando que a saída de Senna coloca em risco a futura participação da equipe Toleman nas competições automobilísticas, diante da impossibilidade de encontrar outro piloto para o lugar de Senna, em cuja participação na equipe baseiam-se todos os projetos de patrocínio durante os três anos de contrato. Um pouco mais tarde, a escuderia também anunciou a suspensão do piloto para o GP da Itália, etapa seguinte do calendário, atingindo assim Ayrton em seu ponto mais sensível.
A bem da verdade, Senna também não ficou satisfeito com a precipitação da nova equipe, que emitiu o comunicado antes do previsto – Peter Warr, chefe da Lotus, disse que antecipou o anúncio porque achou que todos já sabiam da negociação. Foi péssimo começo para mim na Lotus, que não cumpriu o combinado comigo, declarou a Folha de São Paulo de 27 de agosto de 1984. Ainda assim, Ayrton garantiu que não havia infringido contrato algum, pois havia uma cláusula de rescisão no documento, e que o acerto já havia comunicado a equipe. No entanto, a reação da Toleman a decisão de Senna foi publicamente hostil e ameaçadora, afirmou uma nota oficial do piloto, emitida em 6 de setembro. Isto causou danos sérios e injustificáveis para seu bom nome e reputação.
BANDEIRA BRANCA
Senna cogitou entrar com recurso para correr o Grande Prêmio da Itália, mas desistiu – e assim seu carro ficou mesmo com o sueco Stefan Johansson, contratado pela Toleman para as três últimas corridas da temporada. A fim de apaziguar os ânimos, o brasileiro esteve em Monza, conversando com o pessoal da Toleman e com a imprensa. Ao jornal O Globo de 7 de setembro, declarou: É muito importante que todos conheçam a verdade deste episódio. Não quero que fique no ar a imagem de ingrato que a Toleman tenta criar de mim. A verdade é que, por uma questão de lealdade, e amparado pelas cláusulas do contrato, comuniquei antecipadamente a Toleman que correria a temporada de 85 pela Lotus.
Após a prova, a Toleman também já acenava a bandeira branca. Peter Gethin, chefe de equipe, garantia que a escuderia gostaria que Senna voltasse para as duas últimas etapas do ano. Estou tentando desanuviar o ambiente, para ver se tudo termina pacificamente. A nossa intenção nunca foi de criar problemas para o piloto, mas unicamente defender os nossos direitos contratuais, afirmou O Globo de 10 de setembro.
A paz seria finalmente selada uma semana depois: no dia 18 de setembro, os jornais anunciavam que piloto e equipe haviam chegado a um acordo, e que Senna voltaria ao cockpit da Toleman para as corridas da Europa e de Portugal. Um mês depois, nos primeiros treinos para sua última prova, o brasileiro, nos boxes da equipe em Estoril, afirmava ao Jornal do Brasil de 19 de outubro de 1984: O ambiente aqui é muito bom. Todos me ajudam, e por isso gostaria de terminar minha passagem pela Toleman com uma boa apresentação.
O terceiro lugar de Senna em Portugal seria o último pódio da Toleman. Na temporada seguinte, a equipe voltaria aos tempos de vacas magras: o italiano Teo Fabi conseguiria terminar apenas duas corridas, tendo um 12a lugar como a melhor colocação, enquanto seu companheiro Piecarlo Ghinzani jamais veria a linha de chegada.
No final de 1985, a Benneton, empresa de confecção italiana que em meados do ano havia se tornado a principal patrocinadora da Toleman, adquiriu também o comando da equipe – que, a partir de 1986, foi rebatizada para Benneton Formula.