AYRTON SENNA, CORRIDA DE RECUPERAÇÃO EM BUDAPESTE; A ARTE DO POSSÍVEL

Ayrton Senna, corrida de recuperação em Budapeste 1990

Tensão mostrada nos treinos se dissipou após os seis pontos conquistados em Hungaroring, que ficaram ainda melhores com o zero do rival francês.

Alain Prost deu a letra antes do Grande Prêmio da Hungria, em coletiva de imprensa da Marlboro no Hotel Atrium Hyatt, em Budapeste. As vezes a gente precisa de vitórias, ás vezes só fazer pontos. Mas como Senna e eu estamos muito próximos e temos o mesmo número de vitórias, acho que agora temos de pensar apenas em primeiros ou segundos lugares. afirmou o francês. Cada um tinha quatro vitórias, mas Ayrton liderava o campeonato com uma diferença pequena, 48 pontos a 44. Faltando sete provas para o final da temporada, já naõ havia muita margem para erros.

Senna sabia disso. Preocupado, não estava para muita conversa com os jornalistas, uma mudança sensível para o piloto que, após vencer a primeira corrida do ano, mostrava-se relaxado e tranquilo. O motivo? Acúmulo de cansaço e estresse, afirmou. Estamos já além da metade da temporada, liderando o campeonato, e qualquer palavra minha que tenha duplo sentido é explorada muitas vezes pelos jornalistas com o sentido negativo. Muita gente faz sensacionalismo com o que eu digo. E tenho tentado me resguardar. Sei que é impossível impedir que distorçam o que digo. Sempre acabo falando alguma coisa. Mas tenho procurado evitar.

BOM PRESSENTIMENTO

Em Hungaroring, o brasileiro só foi se soltar um pouco mais com a imprensa ao final do segundo treino. Mesmo conseguindo apenas o quarto melhor tempo, Senna demonstrou estar confiante no desempenho de sua McLaren. Estou numa situação muito mais tranquila. O carro melhorou muito, especialmente com pneus de corrida. Além disso, a equipe tem informações suficientes para conseguir um bom acerto, o que é fundamental para a prova.

Ao final do Grande Prêmio da Hungria, aí sim, toda a tensão se esvaiu. No pódio, Ayrton estava descontraído; nas entrevistas e conversas após a prova, ofereceu uma detalhada e paciente análise de todo o seu desempenho na corrida, a começar pelo problema antes da largada.

Aconteceu uma coisa inesperada, que nunca vi antes. Quando parei no grid, os mecânicos tiraram a carenagem e o radiador do lado direito tinha um buraco. A água vazava e eu tinha de mudar de carro. Fui para o box correndo e peguei o reserva. Tinha feito apenas uma volta com ele, de manhã. Não sabia como estavam câmbio, motor, freio, nada. Voltei para o0 grid, mexi um pouco no aerofólio dianteiro só por intuição, feeling.

Mas intuição nenhuma poderia prever o que aconteceria com Senna na 21a volta, quando o brasileiro, após ultrapassar Alesi, pensou que teria caminho aberto para buscar o primeiro pelotão: graças a um pneu furado e a um pit stop ruim, ele ficou ainda mais atrás. Parece que vou ganhar o troféu de furar pneu este ano. No México me custou nove pontos. Aqui, quase me custa a corrida de novo. O carro começou a bater no chão, balançar e eu percebi que tinha alguma coisa errada. Fui para o box, mas naquela volta perdi muito tempo, relembrou, acrescentando que, além de tudo, a troca foi lenta – mais de 10 segundos, por conta da dificuldade de um mecânico com uma roda traseira.

FINAL EXCELENTE

Senna explicou que, quando voltou para a pista e sentiu que o carro tinha um ótimo desempenho, partiu mesmo para o tudo ou nada. Comecei a andar o mais rápido que dava para pegar o pessoal da frente. A motivação ia aumentando. Sabia que ia esperar para ultrapassar os outros e se atrapalhassem com retardatários, disse.

Após passar Patrese e Mansell, Ayrton, agora na terceira colocação, encostou em Alessandro Nannini. E ai veio a manobra mais polêmica da corrida, na 63a volta: o brasileiro tentou a ultrapassagem por dentro, Nannini não abriu a porta, a McLaren e a Benetton se chocaram e o italiano acabou voando para fora da pista. Senna descreveu assim o episódio que acabou com a corrida de Nannini. Quando entrei pela direita, Nannini não me viu ou fingiu não me ver. Fechado, fui para cima da grama e tive sorte na batida, porque eu também poderia ter visto a corrida acabar ali. Lamento por ele, que estava fazendo uma prova excelente e marcaria pontos.

Ao assumir a segunda colocação, Senna até pensou em partir para cima do líder, mas rapidamente mudou de ideia. Com seis pontos garantidos e meu concorrente direto fora, achei melhor segurar. Para mim, fazer seis pontos e a Ferrari nada é mais que uma vitória.

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