Em prova com três largadas em Spa-Francorchamps, Senna deixou Prost para trás, após pit stop simultâneo, e abriu vantagem na briga pelo título.
Quando as equipes começaram a ocupar os boxes do autódromo de Spa-Francorchamps, ainda faltavam seis provas para o final da temporada de 1990 da Fórmula 1, e somente dez pontos separavam o líder do campeonato, Ayrton Senna, do segundo colocado e maior rival, Alain Prost. O brasileiro chegava ao Grande Prêmio da Bélgica como grande favorito, não apenas por ser um especialista no circuito – havia vencido as provas de 1985, 1988 e 1989 – como também pelo fato de os motores Honda darem uma boa vantagem á McLaren no circuito de alta velocidade.
Eram grandes as chances, portanto, de que essa diferença na tabela de classificação se ampliasse ao final do domingo. Mas, ao final do primeiro treino livre em Spa, Prost resolveu sair de sua discrição habitual e tentou dividir no grito o favoritismo da prova. A Ferrari está fantástica, afirmou o francês, que, apesar da empolgação, havia ficado apenas com a segunda colocação parcial no grid (1m51s841), atrás de Gerhard Berger (1m51s211_ e á frente de Senna (1m52s278). Outros podem ter o melhor motor, mas eu tenho o melhor carro para esta corrida, garantiu.
Podia até ser. Mas a McLaren tinha o melhor piloto, como mostrou o treino decisivo de classificação, no sábado. A 12 minutos do final da sessão, Senna, que já havia superado o tempo de Prost e estava provisoriamente na segunda colocação, fez uma volta perfeita: 1m50s365, cinco décimos mais rápida do que já voadora marca no ano anterior, recorde do circuito. Com isso, Ayrton mais uma vez sairia na pole, ao lado de Berger, que registrou 1m50s948. A Ferrari fantástica de Prost ficou apenas na terceira posição, ainda na casa de 1m51s043.
Na primeira saída não pude tirar o máximo do carro. Fiz algumas mudanças e ele ficou com um equilíbrio melhor. Nessa pista, longa e de alta velocidade, os pneus não duram uma volta inteira com ninguém. Portanto, é uma questão de não ir tão devagar no começo a ponto de comprometer seu tempo, nem tão rápido a ponto de acabar com os pneus cedo demais, ensinou Senna, para quem a prova seria disputa e excitante. Bélgica sempre foi bom para mim, e espero que continue assim.
GARANTIU
No domingo, 26 de agosto de 1990, todas as previsões de Senna se mostrariam corretas. A corrida foi disputada e excitante desde a largada, ou melhor, as largadas: foram três.
Na primeira, Senna manteve a ponta á frente de Berger e Prost, mas oito carros se envolveram em colisões – entre eles, a Benetton de Nelson Piquet com a Ferrari de Nigel Mansell e o choque das Lotus de Martin Donnelly e Derek Warwick, e a prova precisou ser interrompida, devido á sujeira na pista. Na segunda, Senna ficou mais uma vez á frente, agora seguido pelo belga Thierry Boutsen, que levantou a torcida da casa ao ultrapassar Berger e Prost. Na segunda volta, porém, um feio acidente com a Minardi de Paola Barilla, que se chocou violentamente contra o guard rail, provocou nova interrupção da corrida.
Na terceira e última largada, Senna de novo partiu na ponta, agora seguido por Berger, Prost e Boutsen. O brasileiro aos poucos abria vantagem para o companheiro de equipe, que, por sua vez, estava em apuros com as investidas do francês da Ferrari. Prost finalmente passou Berger na 14a volta e partiu para cima de Ayrton Senna.
A diferença chegou a 2s964 quando Prost resolveu parar para trocar pneus. Informado da decisão pelos boxes da McLaren, Senna estrategicamente optou por fazer seu pit stop no mesmo momento e, com um bom trabalho do time de mecânicos da McLaren, saiu dos boxes antes de Prost, mantendo a vantagem sobre o rival.
Mas foi na volta á pista que aconteceu o xeque-mate da corrida: Senna acelerou e retomou á frente de Alessandro Nannini, da Benetton. Já Prost voltou logo atrás de Nannini e suou á beça para passá-lo. O francês demorou quatro voltas para conseguir pular á frente do italiano; quando conseguiu, Senna já estava com uma vantagem de quase 8 segundos na liderança. E não mais a perderia. No final, o brasileiro ainda tirou o pé e cruzou a linha de chegada apenas 3s550 á frente de Alain Prost.
Quando vi aquele carro verde, sabia que era o Nannini e que eu precisava entrar na pista antes que ele passasse, explicou Senna. Porque ele estava andando muito, era rápido nas retas, e seria um sufoco ultrapassá-lo. Sabia também que a pressão nas primeiras curvas seria intensa, mas eu joguei duro. O campeonato estava em jogo.