AYRTON SENNA GP DA ESPANHA 1990; UMA PEDRA NO CAMINHO

Ayrton Senna GP da Espanha 1990; Uma pedra no caminho

Após conquistar a histórica 50a pole da carreira, Senna foi forçado a deixar a prova em Jerez; nova vitória de Prost adiou a definição do título.

O sol da Andaluzia, no extremo sul da Espanha, não foi a única explicação para o clima quente que marcou a 14a etapa da temporada 1990 da Fórmula 1, em 30 de setembro. Se a temperatura elevada no asfalto do circuito de Jerez de la Frontera alarmava equipes e pilotos, nos bastidores da Ferrari a tensão era motivada por uma crise interna e pela iminência do bicampeonato mundial de Ayrton Senna. Na prova anterior, o GP de Portugal, Nigel Mansell se enroscou com Alain Prost logo na largada, atrapalhando os planos do francês e beneficiando o brasileiro, que saltou para a ponta. Mansell ainda retomaria a liderança e venceria a prova no Estoril, mas Prost amargou um terceiro lugar, atrás justamente de Senna.

Graças ao quiproquó ferrarista na corrida passada, Ayrton chegava á Espanha com ótimas possibilidades de confirmar o título. Bastava terminar á frente de Prost – ou o francês ficasse no máximo em terceiro – para festejar a taça com xerez andaluz e ir ás duas últimas provas, no Japão e na Austrália, apenas a passeio. Enquanto Prost não economizava nas críticas públicas a Mansell (por ter facilitado sua vida no Estoril) e aos chefões da Ferrari (que adotaram uma estratégia que o ajudasse), Senna esfregava as mãos á espera dos treinos classificatórios.

Com uma pista estreita e um traçado de média velocidade, Jerez tinha um único ponto de ultrapassagem óbvio, a reta dos boxes e ainda assim não era fácil tomar a dianteira ali, pois o trecho era relativamente curto, cerca de 600 metros. Ou seja: quem largasse na frente teria grandes chances de liderar de ponta a ponta. Aqui a pole é importante mesmo, ressaltou Ayrton antes das primeiras tomadas de tempo. Em Jerez, ele já tinha largado na frente em 1986, 1988 e 1989, e tudo indicava que o brasileiro não deixaria escapar mais essa em 1990. Senna havia sido o primeiro do grid em sete etapas do campeonato até aquele momento.

POLE PARA A HISTÓRIA

Na sessão de sexta-feira, lembrada por um acidente gravíssimo envolvendo o irlandês Martin Donnelly, Senna marcou um tempo que parecia fora do alcance da concorrência: 1m18s900. No sábado, Ayrton baixou a cifra e cravou 1m18s387, com velocidade média de 193,716 km/h. Prost, que havia registrado 1m20s026 no sábado, soube extrair o máximo da Ferrari e conseguiu marcar 1m18s824, o que lhe garantiu uma vaga na primeira fila, ao lado de Senna.

A pole tinha um sabor especial, não só por aumentar consideravelmente a chance do bi na Espanha, como também por garantir a Senna mais uma marca notável: seria a 50a vez que ele largaria na primeira posição do grid. Vai ser uma prova difícil. Mas eu tenho mais chances de ser campeão do que nunca havia tido em minha carreira, disse o brasileiro, confiante.

Enquanto Ayrton definia a estratégia para confirmar o título (manter o balanço do carro e fazer uma boa largada), Prost se resignava. Confirmando mais uma vez a fama de pragmático e estrategista, o francês acreditava que, caso conseguisse saltar na frente na largada, a agilidade da Ferrari nas paradas no box poderia fazê-lo desbancar Ayrton sem precisar se arriscar em uma ultrapassagem. Será que o professor estaria certo no cálculo?

DAS CRÍTICAS AOS TAPINHAS NAS COSTAS

Os engenheiros da McLaren temiam uma perda de desempenho do carro no calor de Jerez, o que acabou se confirmando. Senna patinou na largada, mas conseguiu segurar a ponta e suportar a perseguição de Prost até a primeira parada para troca de pneus. A previsão do francês então se confirmou: depois que os dois passaram pelo box, com a Ferrari realizando o pit stop mais rápido, a liderança passava a ser de Prost. A McLaren de Senna penava para manter o ritmo, com o francês ampliando sua vantagem na frente e Mansell encostando no brasileiro.

Para completar, havia uma pedra no meio do caminho do bicampeonato – para ser mais preciso, um seixo que Ayrton atropelou com a roda dianteira e atingiu em cheio o radiador direito do carro. O vazamento comprometeu totalmente a performance da McLaren, e Senna teve de abandonar a prova a 20 voltas do fim da corrida pelos monitores.

Bem ao estilo, Prost minimizou riscos na última parte da prova e confirmou a vitória que manteria seu sonho vivo pelo menos até o GP do Japão. No pódio, trocou tapinhas nas costas com Mansell, que chegou em segundo, e comemorou com o inglês, ambos meio sem jeito. O francês trocou as alfinetadas da véspera por palavras de gratidão profunda á equipe. Em seguida, reavaliou suas chances: Para mim, continua difícil ganhar o campeonato. Mas é possível. No motorhome da McLaren, Senna lamentava o desfecho. Foi uma pena. Tinha tudo para dar certo, mas as coisas se complicaram.

 

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