AYRTON SENNA UMA RECONCILIAÇÃO COM PROST? QUANDO O INESPERADO ACONTECE

Ayrton Senna reconciliação com Alain Prost?

Ayrton Senna e Alain Prost aceitaram a sugestão de um jornalista italiano e apertaram as mãos durante a entrevista após a prova em Monza.

Apesar de inédita, a vitória de Ayrton Senna no Grande Prêmio da Itália não foi exatamente uma surpresa.

O brasileiro já havia batido na trave nos três anos anteriores, e, afinal, era o líder do campeonato e considerado o favorito, mesmo com toda a guerra psicológica da Ferrari.

Surpreendente mesmo foi o que ocorreu após a prova, na sala de imprensa do autódromo, na tradicional coletiva dos três primeiros colocados: um inesperado aperto de mão entre Senna e Alain Prost. Apesar de o gesto ter sido muito celebrado pelos jornalistas presentes, ainda era cedo para dizer se aquilo determinaria uma reconciliação definitiva entre os pilotos, cuja relação havia se deteriorado após a polêmica no Grande Prêmio de San Marino de 1989. De qualquer forma, era um começo.

OUSADIA JORNALÍSTICA

No início da entrevista, nada indicava uma reaproximação entre os desafetos. Com um animado Gerhard Berger sentado entre Senna e Prost, os campeões mundiais, sisudos, sequer haviam trocado olhares. Porém, o apressado austríaco, após responder a algumas perguntas, deixou a sala subitamente. Ayrton e Alain agora estavam lado a lado, mas seguiam ignorando um ao outro.

Até que o repórter Carlo Marincovich, do italiano La Reppublica, pediu a palavra. E o corajoso jornalista, ao invés de fazer uma pergunta sobre a prova a algum dos pilotos, saiu do roteiro e decidiu realizar um convite a ambos. Prost e Senna: por que não aproveitam a oportunidade e acabam as hostilidades, com um aperto de mão? Pego de surpresa, Prost reagiu primeiro. Eu estou de acordo. Se Ayrton quiser……

Senna permaneceu calado por alguns instantes. Pegou o microfone e foi, como sempre sincero. É muito fácil esquecer e deixar para lá. As pessoas têm memória curta. De qualquer forma, somos profissionais e fazemos o mesmo trabalho. Temos a mesma paixão. Talvez não tenhamos muitas outras coisas em comum. Quando ele puder dizer, aqui, em frente de todo mundo, que esse é o verdadeiro desejo de seu coração, não terei nenhum problema. Aceitarei, sem problema. Mas isso precisa ficar claro publicamente, ponderou Ayrton.

O francês seguiu a deixa do brasileiro. Isso é muito importante, porque, de fato, Ayrton está certo. Não quero voltar ao passado. Ele tem suas razões, motivações e ideias sobre o que aconteceu, afirmou Prost, fazendo uma espécie de meia culpa.

Por mim, esqueçamos o que houve. Concordo quando ele diz que temos a mesma paixão. E acho que isso é fantástico no que toca ao esporte, á tecnologia, a mim. Mudei muito o nível pessoal. Entendi muitas coisas e acho que seria muito bom para nosso esporte se de agora em diante, nas últimas quatro provas, pudéssemos apertar as mãos e correr como profissionais. Se eu estiver na primeira fila com Ayrton, tenho certeza de que nunca terei problema na pista. Acho que a situação é muito chata, principalmente para nós, porque na verdade, nossa imagem não é aquela que merecemos, garantiu o piloto da Ferrari.

Senna e Prost, então, trocaram um aperto de mão, um gesto que emocionou não apenas os pilotos, mas todos os presentes na sala de imprensa.

REFLEXÕES DE AYRTON

Mais tarde, Senna detalhou aos jornalistas o motivo de sua hesitação. Não é simples, depois do que aconteceu, virar as costas e dizer amém. Foi uma desgraça para mim, ano passado, confessou aos jornalistas, explicando também porque havia recusado um gesto semelhante de Prost no GP dos Estados Unidos. Em Phoenix, ao me estender a mão, ele tivera atitude política.

De qualquer forma, apesar de aliviado, o brasileiro ainda não estava completamente convencido de que essa reaproximação se manteria no longo prazo. Falar na frente de todo mundo é muito fácil. Difícil é agir sozinho, com sua consciência. Hoje ficou, espero, patente que esse é o desejo. Mas a gente tem que ver se as atitudes de cada um, sobretudo em momentos críticos, demonstrarão se esse desejo é de coração ou não. O primeiro passo está dado, mas o que vai demonstrar são as próximas corridas, os próprios dias, meses e anos. O que aconteceu é uma vírgula numa frase inteira.

 

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