Depois de deixar escapar a vitória nos três anos anteriores, Senna venceu na casa da Ferrari e disparou na briga pelo título mundial da temporada.
A Ferrari. A alucinada torcida italiana. Alain Prost. Nigel Mansell. E por último, mas não menos importante, a chamada Maldição de Monza. Não eram poucos os adversários que Ayrton Senna teria de enfrentar naquele Grande Prêmio da Itália de 1990. Um triunfo na prova a ser disputada no dia 9 de setembro de 1990 no Autódromo Enzo e Dino Ferrari colocaria o brasileiro muito perto do bicampeonato mundial. Por outro lado, uma vitória de Prost poderia marcar o início de uma reação da Scuderia na reta final da temporada. Faltando cinco provas para o final do campeonato, Senna liderava com 63 pontos, contra 50 do francês.
Apostando todas as fichas em uma vitória em casa, a equipe italiana montou uma verdadeira operação de guerra para evitar o sucesso da McLaren em seu território.
Para os treinos de sexta-feira e sábado, os carros de Prost e Mansell foram equipados com um motor especial exclusivo para a classificação. Tratava-se de um propulsor com um ajuste especial, que elevava a potência, porém reduzia a durabilidade. O tal super motor não resistiria mais do que uma hora – mas a Ferrari esperava que fosse suficiente para permitir a um de seus dois pilotos conquistar a pole position, uma vitória psicológica importante nessa primeira batalha.
Trabalhamos muito para isso. É uma questão de honra vencer aqui. Diante de nossa torcida e também por causa da situação no campeonato, Senna não pode disparar na liderança, afirmou o diretor Cesare Fiorio.
ÁGUA NO VINHO DOS ITALIANOS
Faltou só combinar com o brasileiro da McLaren. Na sexta-feira, Ayrton terminou a primeira sessão de classificação com o melhor tempo, 1m22s972, novo recorde extraoficial do circuito, para decepção da torcida local.
No sábado, ao menos por algum tempo, parecia que a maré viraria. Enquanto Senna teve muitos problemas no treino livre da manhã, Prost voava baixo com sua Ferrari. Na sessão oficial da tarde, o francês arrancou para uma fantástica volta de 1m22s935, obtendo a pole position parcial.
O treino entrava em sua reta final, e Senna ainda estava no box quando o companheiro de equipe Gerhard Berger saiu para tentar melhorar sua classificação. Os cronômetros apontavam o tempo do austríaco – 1m22s936, apenas 1 milésimo mais lento que o de Prost, e os tifosi já se preparavam para comemorar a pole do francês. Contudo, faltando 3 minutos para o final do treino, Ayrton voltou á pista, já vazia. E o ronco de sua McLaren silenciou a torcida: com o tempo de 1m22s533, o brasileiro retomava a pole.
SEM SOPA PARA O AZAR
Senna, portanto, não teria ninguém á sua frente na largada, mas ainda assim precisaria superar um obstáculo, digamos, sobrenatural: a chamada Maldição de Monza. O brasileiro jamais havia vencido na casa da Ferrari; nos três anos anteriores, chegara á liderança da prova, mas em todas elas perdeu o posto a poucas voltas do final, em provas que já pareciam ganhas.
De qualquer forma, Ayrton estava tranquilo. Eu não acredito nessa coisa de sorte ou azar. Se tiver um bom carro e uma corrida favorável, vou ganhar. Como meu carro é bom, resta esperar que as coisas na corrida saiam como espero.
Saíram melhor. Além de disparar na frente quando a luz verde se acendeu, Senna contou com a ajuda de Berger. Terceiro colocado no grid, o austríaco ultrapassou Prost na largada e segurou o francês por 20 voltas, permitindo que Ayrton poupasse os pneus no início da prova. A partir da 15a volta, Senna acelerou; quando Prost retomou a segunda colocação de Berger, o brasileiro já tinha uma vantagem de pouco mais de 5 segundos. A partir daí, ambos pisaram fundo, alterando voltas mais rápidas. Mas Senna esteve sempre no controle – e recebeu a bandeira quadriculada com 6 segundos de vantagem sobre o francês.
Esta corrida eu tinha gana de vencer, depois de tudo o que disseram de mim, do Berger e da McLaren. Fizeram terrorismo com a gente. O pessoal da Ferrari e – uma pena até os torcedores. Disseram que iam ser os mais rápidos nos treinos, que nós não ganharíamos. Eu tinha gana de vencer.