GP DA AUSTRÁLIA 1986; TRÊS HOMENS E UM DESTINO

Ayrton Senna GP da Austrália 1986

Mansell e Piquet sentiram o gostinho do título, mas, ao triunfar em Adelaide, foi Alain Prost que ficou com o campeonato mundial.

Depois de quase oito meses de disputas, finalmente era chegada a hora de decisão. Três pilotos desembarcavam no Grande Prêmio da Austrália, 16a e última etapa do calendário, com chances de faturar o título de 1986.

A aposta mais segura era em Nigel Mansell, líder do campeonato com 72 pontos; o inglês só precisava levar sua Williams ao terceiro lugar para sair de Adelaide com o troféu. Alain Prost, da McLaren, vice-líder com 65 pontos, e Nelson Piquet, da Williams e com 63 pontos, tinham missão mais complicada, pois precisava vencer e torcer por tropeços dos adversários.

O favoritismo de Mansell aumentou ainda mais ao final do último treino classificatório, em 25 de outubro, quando superou Piquet no duelo particular entre as Williams e ficou com a pole position. Alain Prost, por sua vez, acabou apenas com o quarto tempo, atrás de Ayrton Senna, da Lotus, que intrometendo-se na briga pelo título, garantiu a terceira posição.

O brasileiro, aliás, havia declarado que não estava nem um pouco preocupado com a decisão do campeonato e iria buscar a vitória independente de quem estivesse em seu caminho. Mansell, que desde o final da temporada anterior vinha tendo desentendimento com Ayrton, dessa vez concordou com o rival. Tenho certeza de que ele não facilitaria para ninguém. Se puder, ganha mesmo. Embora eu também só pense na vitória, acho até bom que ele ganhe, porque isso me dá o título, declarou o líder do campeonato ao jornalista Murray Walker.

É DO INGLÊS

Domingo, 26 de outubro de 1986. Um público de 150 mil pessoas lotou o circuito de Adelaide para testemunhar o gran finale da temporada. E logo ficou claro para todos os presentes que Senna não estava mesmo para brincadeira: na largada, o brasileiro deixou Piquet e Mansell para trás e tomou a ponta. Ainda no final da primeira volta, porém, Piquet fez valer a força de sua Williams e assumiu a liderança.

Mas a McLaren de Keke Rosberg vinha quente – e o finlandês passou á primeira colocação na sétima volta, deixando para o segundo posto a contenda entre Piquet, Mansell e Prost. A essa altura, Senna já havia caído para o quinto posto, onde ficaria até a 43a volta, quando os problemas com o motor finalmente o obrigaram a abandonar.

Era quase a metade da corrida, e Mansell estava ainda mais perto do título: tranquilo na segunda colocação, atrás de Rosberg, o inglês não quis comprar a briga nem mesmo quando Piquet encostou e o ultrapassou, na 45a volta; o terceiro lugar ainda era ótimo negócio. No 62 giro, um dos pneus do líder Rosberg estourou, forçando seu abandono. Melhor ainda para Mansell: faltando apenas 20 voltas para o fim da prova, agora parecia que o título era questão de tempo. Mas só parecia.

Na volta seguinte, o inglês, desgraçadamente, também viu um de seus pneus estourarem e foi igualmente obrigado a deixar a prova.

É DO BRASILEIRO

Nelson Piquet herdou a liderança e, durante duas voltas, correu como o virtual campeão do mundo. Mas a Williams, temendo que também os pneus do brasileiro estourassem – como já havia acontecido com os compostos Goodyear de Rosberg e Mansell – o chamou ao box para uma troca de segurança. Com isso…..

É DO FRANCÊS

O caminho se abriu para Alain Prost, que assumiu a liderança pela primeira vez na corrida. O campeão ficava assim a apenas 17 voltas de seu segundo título, contando, claro, que Nelson Piquet não o ultrapassasse. A tarefa do brasileiro era praticamente impossível, já que tinha 20 segundos de desvantagem para tirar da McLaren. Sem alternativa, Piquet estava disposto a tentar. Com o pé afundado no acelerador, foi dilacerando a diferença até ficar a apenas quatro segundos do líder. Para sua infelicidade, porém, nesse momento a prova acabou. Prost já estava recebendo a bandeirada que lhe garantiu o ( até certo ponto improvável ) bicampeonato mundial.

Foi uma temporada difícil e desgastante. A disputa era tão grande que houve um momento em que senti desânimo até para continuar na luta, confessou Prost. Na Austrália, ele foi salvo por não ter acreditado na promessa da Goodyear de que os pneus aguentariam toda a prova – antes mesmo do festival de estouros, o desconfiado francês já havia feito uma parada para troca.

Enquanto Prost respirava aliviado, Nigel Mansell tentava entender porque a sorte lhe deu as costas. Trabalhei tanto o ano inteiro para perder na última prova. Sinto pela equipe e por minha família, da qual me afastei tanto este ano, afirmou, melancólico. E nada disso valeu, porque acabei perdendo.

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