FESTA BRASILEIRA EM MONTE CARLO; TRÊS ANOS DEPOIS, A RECOMPENSA DE AYRTON

Ayrton Senna, festa brasileira em Monte Carlo 1987; a primeira vitória de Senna em Mônaco

No pódio, a frustração pela vitória subtraída em 1984 deu lugar á incontida alegria pela realização de um sonho de criança.

Em um domingo chuvoso de junho de 1984, a bordo de uma Toleman, Ayrton Senna fez o impossível: desbancou as escuderias de ponta e recebeu a bandeira quadriculada no Grande Prêmio de Mônaco de Fórmula 1. A direção da prova, porém, subtraiu a vitória do estreante e a colocou no colo de Alain Prost, que acabaria vencendo novamente no principado nos anos de 1985 e 1986. Em 1987, o francês já não era mais favorito, posto agora ocupado por Nigel Mansell. Para Senna, porém, não fazia muita diferença: com sua Lotus longe de ser páreo para Williams ou McLaren, a vitória lhe parecia tão distante quanto daquela primeira vez.

O carro tem graves defeitos de aerodinâmica, geometria, distribuição de peso etc. Aí não tem jeito. Se nos últimos dois anos já enfrentávamos defeitos do tipo, imaginem agora, com este motor Honda, que dá mais 150, ás vezes até 200 cv de força e torna a Lotus de dois a três segundos mais rápida…. Ás vezes me sinto montando um cavalo brabo, afirmou ele, que, assim como nas etapas anteriores, garantia que só uma sucessão improvável de acontecimentos o levaria ao degrau mais alto do pódio. Se seis carros baterem na largada, as McLaren e as Williams quebrarem, se houver coisas desse tipo, pode ser….

DUELO REEDITADO

Depois dos entreveros do Grande Prêmio da Bélgica, quando Senna e Mansell colidiram a briga do box, autoridades da Fórmula 1 promoveram no início das atividades em Monte Carlo um encontro para apaziguar os ânimos da dupla. Funcionou, mas só durante algumas horas. Com os dois rivais dividindo a primeira fila do grid de largada, as farpas logo voltaram a sobrevoar a Fórmula 1, agora no principado.

Largo na pole e não vou desperdiçar a vantagem. Entro primeiro na Saint Devote que ele queira, quer não, ameaçou o inglês. O brasileiro não deixou por menos. Se eu pular na frente, não quero saber. Vou apertar fundo e ele que não se faça de engraçado, porque senão saímos os dois na primeira curva.

Na véspera da prova, Ayrton também revelou seu segredo para pilotar em Mônaco. É mais ou menos como jogar fliperama. Não dá nem tempo de pensar muito. É ir na base do reflexo.

MELHOR QUE A ENCOMENDA

Depois da categórica vitória, e após dar um banho de champanhe em Peter Warr e em parte da família real monegasca, Senna ponderava as voltas que a Fórmula 1 dá.

Antes da corrida, o próprio piloto se considerava carta fora do baralho; entretanto, o trabalho realizado de sábado para domingo na preparação do carro, com os mecânicos e engenheiros varando a madrugada nos acertos, reescreveu a história.

Hoje foi tudo diferente. O carro andou como nunca, o motor estava ótimo, a suspensão também o resultado aí está. Uma vitória com que sempre sonhei e que persigo desde que entrei na Fórmula 1, afirmou Ayrton, garantindo que o resultado afastava para sempre o incômodo com o desfecho da corrida de 1984. De uma certa forma, me sinto recompensado. Ganhar aqui sempre foi um dos meus principais objetivos. Não me deixaram ganhar quando eu já considerava a vitória certa, venci quando não esperava – agora.

SOBROU O CARRO

Pela segunda corrida consecutiva, as frustrações de Nigel Mansell foram descontadas no soco – só que, dessa vez, a vítima foi o próprio carro. Ao abandonar a prova, o inglês esmurrou o cockpit de sua Williams e entrou resmungando no box da equipe, inconformado. Preciso me benzer, dizia. Para boa parte dos analistas, contudo, ele não precisava de ajuda espiritual; bastava parar de forçar o bólido em situações desnecessárias que suas chances de vencer aumentariam sobremaneira.

Senna, aparentemente, comungava da mesma opinião. Um jornalista perguntou ao brasileiro se achava que teria vencido a prova caso o turbo de Mansell não tivesse quebrado. Ele não ficou até o final da prova, como poderíamos saber?, respondeu Ayrton, com um sorriso no rosto. No início, não quis mesmo acompanhá-lo. Achei que desde a primeira volta seu ritmo estava forte demais. Não chegou a ser exatamente uma surpresa que estourasse o motor…..

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