SENNA É O BRASIL EM DETROIT; O CONSOLO QUE VEIO DA PISTA

Senna é o Brasil em Detroit 1986

Um dia após a derrota da Seleção na Copa de 1986, Ayrton inaugurou um gesto histórico ao empunhar uma bandeira brasileira na volta da vitória.

Sábado, 21 de junho de 1986. Enquanto as máquinas da Fórmula 1 saem á pista para definir as posições do grid de largada do Grande Prêmio dos Estados Unidos, a seleção Brasileira de Futebol com Zico, Sócrates, Careca e companhia limitada, entra em campo para o duelo contra a França, válido pelas quartas de final da Copa do México.

Como todo brasileiro, Ayrton Senna estava ansioso com a partida. Após assegurar a pole position, o piloto não perdeu tempo. Levou o carro de volta para a garagem e saiu rapidamente do box da Lotus em direção a seu quarto no Hotel Westin, a fim de assistir ao restante do jogo. ( Aquela altura, o Brasil já estava na frente, graças ao gol de Careca aos 17 minutos do primeiro tempo. Os mecânicos da Lotus resolveram dar a boa notícia ao piloto, colocando o placar do jogo no pit board, a placa de comunicação levantava na passagens dos carros pela reta dos boxes. )

A saída imprevista de Senna deixou Ann Bradshaw, responsável pela comunicação da equipe inglesa, em maus bocados; afinal, era costume que o vencedor do treino classificatório participasse de uma coletiva de imprensa após a atividade. Mas tudo que ela conseguiu foi que Senna, antes de partir para o hotel, gravasse em uma fita cassete alguns comentários aos jornalistas lembrou a Johnny Tipler.

No livro Ayrton Senna: The Lotus Team Years. Ayrton gostava de tudo que era do Brasil, gostava do time de futebol. Qualquer coisa que estivesse ligada do Brasil, ele estava lá em espírito. E ele não foi a coletiva de imprensa porque estava acontecendo o jogo, recordou carinhosamente Bradshaw, que, no calor do momento, porém, não ficou nada feliz com a escapada do piloto. Lembro de ter pensado: tomara que o Brasil perca:

DERROTA

No lado sul da fronteira norte-americana, no estádio Jalisco, em Guadalajara, o duelo entre os times de Telê Santana e de Henri Michel estava emocionante. O astro francês Michel Platini havia empatado a partida no final do primeiro tempo, mas o Brasil seguia em cima dos franceses, carimbando duas vezes a trave de Joel Baets. A maior oportunidade Canarinho viria com um pênalti na metade do segundo tempo: Zico, porém, bateu mal e desperdiçou a chance da vitória no tempo normal. A partida foi então para a prorrogação e, com o placar inalterado após os 30 minutos, aos pênaltis.

Na disputa da marca da cal, Sócrates e Júlio César erraram, e a França venceu por 4 a 3. Era o fim do sonho do tetra e o começo da dor de cabeça de Ayrton Senna, como o piloto lembrou em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em dezembro daquele mesmo ano. Meu projetista francês, os mecânicos da Renault eram todos franceses. Conclusão: depois do jogo eu nem fui á garagem onde o pessoal trabalha durante a tarde toda preparando o carro pro dia seguinte, porque eu sabia que eles iriam me alugar, né? E nem apareci na garagem, só apareci no domingo cedo na pista.

VITÓRIA

A ausência de Senna nos acertos de sábado á noite não atrapalhou seu desempenho na corrida do domingo, 22 de junho. Ayrton venceu o Grande Prêmio de Detroit com autoridade, muito á frente do segundo e terceiro colocados, que, por ironia do destino, eram franceses: Jacques Laffite, da Ligier, e Alain Prost, da McLaren. Com a vitória, Senna também desbancou Prost da liderança provisória do campeonato – na Fórmula 1, o lamento pertencia ao lado francês, ao menos momentaneamente.

De qualquer forma, a comemoração de Senna, empunhando a bandeira do Brasil na volta da vitória, ficaria para sempre eternizada na memória do esporte. Deixemos que o próprio Ayrton conte a história, reproduzindo seu relato no Roda Viva:

Tinha muito brasileiro lá, sabe? Eu notei que tinha muito brasileiro. E quando eu passei a linha de chegada, que eu diminuí, eu estava esgotado, foi uma corrida dura fisicamente, eu vi um brasileiro do lado de lá da cerca, pra trás do bandeirinha, com uma bandeirinha do Brasil. E então foi instinto. Eu parei e fazia sinal para o cara que estava do outro lado da cerca e ele não podia vir, o bandeirinha do meu lado e não entendia nada. E eu falava: bandeira, mas ninguém entendia nada. Até que o bandeirinha olhou para mim, olhou para o cara e entendeu. Aí o bandeirinha foi lá, tomou a bandeira do torcedor que estava pendurado lá na cerca. Isso é que é maravilhoso. O cara torcendo, trouxe a bandeira pra mim e eu dei a volta com a bandeira. Então foi um dia especial, né?. Põe especial nisso.

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