Com um show de Senna e Alesi no circuito de rua de Phoenix, a temporada de Fórmula 1 foi aberta em grande estilo, para surpresa de muitos.
Dessa vez, a estreia da temporada seria diferente. Ao invés de sentirem o clima contagiante do autódromo de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, os pilotos acelerariam no meio do deserto, em um circuito de rua detestado por boa parte deles, com um público desinteressado que não enchia metade das arquibancadas. Era o Grande Prêmio dos Estados Unidos, disputado pela segunda vez em Phoenix, no Arizona, uma corrida que não empolgava os protagonistas do circo, mas se justificava para marcar a presença da Fórmula 1 no gigantesco mercado norte-americano.
Em termos esportivos, o asfalto abrasivo, as curvas de 90 graus, o calor que batia os 40 graus e a longa duração da prova que prometia atingir o máximo de duas horas – faziam dela um verdadeiro teste de resistência para os pilotos e carros.
Na edição de 1989, por exemplo, apenas seis dos 26 participantes terminaram a corrida. Com essas características, qualquer prognóstico era arriscado. Phoenix, como todo circuito de rua, é mais truncado e lento, e isso equilibra os carros, afirmou Senna, que chegava para a prova após duas semanas de testes de seu novo McLaren no Estoril, com resultados ainda insatisfatórios.
PEQUENOS INTRUSOS
A afirmação do brasileiro foi comprovada na sexta-feira, 9 de março de 1990, primeiro dia de treinos. Pilotos de equipes menores brigaram de igual para igual com os gigantes e dividiram as primeiras colocações da sessão. O melhor tempo foi de Gerhard Berger, da McLaren, seguido por três surpresas: Pierluigi Martini, da Minardi, Andrea de Cesaris, da Dallara, e Jean Alesi, da Tyrrell. Atrás deles, quem diria, vinham três campeões: Ayrton Senna, Nelson Piquet, agora da Benetton, e Alain Prost, da Ferrari.
A má classificação do francês e, principalmente, a péssima marca de seu companheiro de equipe, Nigel Mansell, que ficou apenas com o 17a lugar, foram um balde de água fria no entusiasmo da Ferrari, nos testes de pré-temporada, as rossas haviam obtido ótimos resultados, com quebra de recordes em Estoril e Paul Ricard. Ayrton, após o treino, cutucou os rivais. A Ferrari está muito bem, fazendo tempos excelentes nos testes, mas na hora que é para valer, elas decepcionam um pouco.
CHUVA NO DESERTO
A chuva, que caía em média apenas 20 dias por ano no deserto do Arizona, resolveu aparecer com força no sábado, impedindo que os tempos de sexta-feira fossem melhorados na última sessão de classificação. Assim, o inusitado grid de largada provisório acabou sendo também o definitivo. E a meteorologia prometia mais chuva para o domingo, 11 de março. A prova em Phoenix tinha tudo para ser imprevisível.
BRASIL X FRANÇA
Mais uma vez, porém, tudo mudou. A chuva, que agora era esperada, não veio. Mas a monotonia que muitos imaginavam também passou longe do Grande Prêmio dos Estados Unidos, uma prova cheia de emoções e que acabou sendo um empolgante primeiro capítulo da Fórmula 1 em 1990.
A começar pela largada, que teve Jean Alesi pulando da quarta colocação para a liderança, em uma arrancada fantástica após o sinal verde. Berger ficou na segunda posição, seguido por De Cesaris e Senna. Na quarta volta, Senna assumiu o terceiro lugar e deu sorte quando Berger, quatro voltas depois, se atrapalhou na saída de uma curva e saiu da pista. O brasileiro agora estava na vice-liderança, cerca de 8 segundos atrás de Alesi. E, pisando fundo, Ayrton encostou no francês na volta 30. Começava o primeiro grande duelo da temporada.
Senna conseguiu a ultrapassagem na volta 34, na reta. Mas Alesi, na curva seguinte, se lançou por dentro e deu o troco, surpreendendo o brasileiro. O francês manteve a primeira colocação… por uma volta. No giro seguinte, no mesmo ponto da reta, Ayrton ultrapassou o francês. E de novo Alesi partiu para tentar retornar a ponta. Mas Senna, por duas vezes, fechou a porta. A partir daí, o brasileiro fez valer a potência de seu motor Honda e rumou para a bandeirada.
Alesi ficou com a segunda posição, e Thierry Boutsen foi o terceiro. Nenhuma das Ferrari chegou ao final.
Depois de todos os problemas que eu tive nos últimos três meses, é ótimo participar de uma disputa não só competitiva, mas limpa. Isso, aliado á vitória e ao desempenho do carro, só me deixa mais motivado, afirmou Senna. Agora me sinto melhor, com mais esperança na Fórmula 1.